segunda-feira, 23 de maio de 2011

Impossível não gostar de você

Eles estavam sentados um do lado do outro, mas ninguém dizia uma só palavra. Ela brincava de mal-me-quer com uma margarida e ele ficava fazendo desenhos na terra com um graveto. Até que depois de muito tempo naquele silêncio constrangedor ele perguntou:
- Por quê você escreve?
- Hã?
- Por quê você escreve?
- Hmmm... Ela não sabia direito o que responder, mas sabia que se quisesse fazê-lo entender acabaria falando demais e o confundiria o dobro, então resolveu apenas ser sincera e rápida: - Porque sou covarde.
- Como assim?
- Já respondi sua pergunta, não? Querer que eu explique já é demais!
- Não, agora quero saber. O quê tem a vê escrever por ser covarde?
- Você nunca leu algo que eu tenha escrito?
- Sim, claro!
- Então deve ter percebido que sempre é para alguém.
- É... Mas essas pessoas existem mesmo?
Ela sorriu continuando: - Sim!
- Uau!
- Que foi?
- Ainda não entendi o porque do 'covarde'
Ela soltou um suspiro.
- Escrevo por não ter coragem de dizer diretamente à pessoa.
- Faz todo sentido.
- Sempre faz... Ela arrancou outra flor, pensou na pessoa que mais gostava e começou o bem-me-quer-mal-me-quer
- Sabe o quê mais me dá raiva? Ela arrebentou o silêncio num tom de ódio e mágoa
- O quê?
- Eu escrevo para ele como quem arranca o coração com as próprias mãos, mas ele... Uma lágrima queria cair de seus olhos, mas ela fazia força para fazê-la voltar.
- Mas ele...?
- Ele não lê, não me nota, nada. Eu não tenho nada dele!
- Você diz isso porque chegou na última pétala e não quer arrancá-la porque já sabe a resposta?
- Sim!
Ele tirou a flor de sua mão, puxando a última pétala. - Prontinho! Não ligue para nada disso, ele não tem motivos para não gostar de você. Quem pode ser capaz de odiar uma menina que ainda brinca de mal-me-quer?
Ela sorriu de um jeito tão doce que foi impossível aquela lágrima não desaparecer. Então ele continuou: - Ele lê! Eu sei que ele lê! Não posso garantir que sabe que é para ele, mas ele lê e torce para ser a pessoa que você tanto escreve...
Thays Gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário