quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Por quê não?

Talvez paraíso seja algo bem mais simples e até mais significativo... olha que paraíso mais lindo, sente só o sentimento que existe nisso, e me diz, qual dos paraísos é mais divino?

Eu vou sentar na calçada num dia de sol e esperar por ela. Ainda que chova, mesmo que flocos de neve dancem pelo ar, não vou pensar em me levantar. E se o vento for forte demais, e eu sei que ele é, posso pensar em deixá-lo bagunçar meu cabelo, mas nunca me passará pela cabeça a ideia de desistir. Por nada. Eu apenas a esperarei. Sou cabeça dura o bastante para tudo isso.
Agora, me sobrou muito tempo para recordar minha vida, para recordar cada dia, cada dia de vazio, cada dia de transtorno que causei a mim mesmo e até os dias alegres, mas é aquilo, os dias alegres a gente deixa para recordar depois, primeiro preciso me emputecer com as faltas graves e os erros imperdoáveis que cometi, talvez eu deixe os dias alegres para recordar ao seu lado, ou vivê-los com ela... eu já não sei. Eu tô tão perdido.
Fecho meus olhos, aperto eles com todas as minhas forças como se quisesse lembrar de algo que a muito tempo esqueci, e então eu me lembro daquela menina, seus traços surgem turvos, borrados em minha mente alagada de pensamentos estúpidos, mas eu sei que é ela, sabe quando a gente sente?
Seu sorriso, um rabisco branco em meio a escuridão dos meus olhos fechados, ele era bem largo e o medo? Esse era estreito. Lembrar de seu rosto, seus gestos, sua risada alta e desafinada, o modo como ela encarava a vida me dá uma certa paz, reforça as raízes que quero criar aqui enquanto ela não chega.
Abro os olhos e volto a realidade, esta é um lixo, um erro, uma idiotice, como é terrível estar aqui, mas é suportável porque ela é a razão de eu estar aqui, entende?
Não sei nem se ela voltará a pisar nesta calçada novamente, se passará alegre, cantarolando como fazia no passado, mas se eu sair por este mundo afora, então eu posso me perder ainda mais e acabar caído em alguma calçada que ela nunca passou e nunca passará. Antes aqui, lugar onde seus pés já pisaram, do que alguma desconhecida.
Você já esteve no paraíso? Você por favor poderia me descrever como é lá? Você ao menos consegue imaginar? Me conte algo bonito, pode até ser clichê, uma história com final feliz, qualquer coisa. Preciso ouvir algo que me faça sentir melhor. Eu imaginei o paraíso. Imaginei que possa ser um jardim imenso, com aquela graminha verde e fofa, cheio de flores, principalmente margaridas, era as preferidas dela, e os dias lá eram ensolarados, aquele sol das 8 da manhã ou das 5 da tarde, e as noites, todas com a lua cheia e céu estrelado, mas com algumas nuvens, aquelas misteriosas que ficam envolta da lua, sabe? Um lugar cheio de árvores enormes, com sombras imensas, e o cheiro de lá, hortelã, menta, eucalipto, dama da noite, inexplicável, o cheiro de todas as frutas, flores e árvores possíveis, e claro, muitas amoreiras, ela amava amoras, sim, esse é o paraíso que imaginei, muitos pássaros cantarolando assim como ela fazia quando assoviava, e claro com o riso absurdo que só ela possuía.
Mas por quê paraíso tem que ser tudo isso, por quê temos que imaginar flores, jardins e gramas? Talvez paraíso seja algo bem mais simples e até mais significativo. Um quarto vazio, apenas com uma cama no meio, pode até ser de solteiro e ela deitada ao meu lado, olhando para mim, os olhos bem pertinho dos meus, dando pra ver aquela cor de chocolate e o cílios enormes, mecher em seu cabelo, beijar a pontinha de seu nariz, brincar com a minha menina no meio de um quarto vazio, olha que paraíso mais lindo, sente só o sentimento que existe nisso, e me diz, qual dos paraísos é mais divino?
Sorri pela minha criatividade e pelo meu eterno sentimentalismo, respodi a minha pergunta e então me calei. Fiquei horas e horas observando as folhas caindo das árvores e deslizando sem destino pelo asfalto quente. Respirei fundo, e como de costume, desafiei Deus, "Se você realmente existe me deixa ver ela passar, não aguento mais esperar e sei que não vou desistir... se você realmente existe!" geralmente dava certo, mas dessa vez eu duvidei demais.
CONTINUA!
Thays Gomes

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O que te fazia sorrir tão bonito?

Você não precisa saber a respeito de sua família, quem foi seu pai ou quem foi sua mãe, ou quando e onde ele nasceu, aonde viveu, os lugares onde esteve e os outros em que quis estar. Não precisa saber quantos anos ele tinha quando começou a escrever ou qual foi sua primeira palavra dita.
Você não precisa saber qual perfume ele usava, se usava, nem sua cor preferida. O que fez de sua vida, quem foi seus amores ou em que ele se formou. Não precisa saber quais sonhos ele realizou e os que deixou para traz, se é que ele deixou alguma coisa para traz. Quem ele amava, quem ele odiava...
Você não precisa saber nada sobre ele.
Você apenas precisa ler o que ele escreveu enquanto vivia, eu diria, enquanto ele vivia docemente. Você apenas precisa ler para se apaixonar.
Instântaneo.
Você lê e você ama.
Você começa amando o que lê e depois ama o que aquelas linhas e letras e palavras e contos e poesia te fazem sentir e daí você ama o homem, o homem com a sensibilidade capaz de passar para o papel os sentimentos mais lindos e humanos, então você já não consegue mais ler o nome Caio Fernando Abreu sem sentir amor.
Doce e intenso, ele era como o dia amanhecendo eternamente. Ele era da cor laranja e seu sabor, ahhh, todos nós sabemos, não era salgado, amargo ou azedo, Caio era doce, 7 vezes doce.
Você não precisa saber nada sobre ele porque ele era tudo.
Um sonho, uma poesia, uma palavra que conforta, encoraja e liberta, um abraço quente, um dia de domingo cheio de Sol, uma noite estrelada, um sorriso infatil, uma canção calma, uma brisa leve.
Ah Caio...
O que te fazia sorrir tão bonito?
Thays Gomes

Segundas impressões

Você tem todo o direito de julgar uma pessoa pela aparência num primeiro momento, mas é sempre bom dar uma segunda olhada, não é mesmo? Todos precisam de uma segunda chance para que você confirme suas conclusões precipitadas, ou as mude completamente.
Você a vê, mas o que você vê?
Um corpo coberto por panos, cores e trecos, que às vezes pode te agradar e às vezes não. O engraçado é que as conclusões mais "profundas" e "obscuras" que você pode tirar sobre ela é seu gosto para roupas ou como ela penteia seu cabelo, no máximo, dizer se gosta do seu sorriso ou não.
Qual sua banda favorita? Qual a cor que ela mais gosta? Como foi seu primeiro beijo? Quem é o amor de sua vida? Qual o som da sua risada?
Os olhos poderiam ir mais além, não é? Superar o superficial e nos mostrar aquilo que realmente deveria interessar.
Não haveria primeira impressão, pois a primeira seria a última e a eterna, e as segundas chances seriam desnecessárias, ou supernecessárias apenas para nos deixar apreciar aquilo que vimos e gostamos.
Thays Gomes

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O horizonte em seu olhar

-Olhe bem no fundo dos meus olhos. Ele disse como se implorasse para que ela salvasse sua vida.
-Estou olhando.
-E o que você vê?
-Eu!
-Você!
Então houve um imenso silêncio e um vazio enorme e eles ficaram alí, parados, se olhando, cada um pelo reflexo que enxergava nos olhos do outro.
-Você está vendo a minha alma. Os olhos refletem a alma e a minha é você. Ele disse quase num susurro...
E então ela fechou os olhos.
-Não. Não é verdade. Se não fosse eu aqui? E se fosse outra, outro? Saturada das coisas que ele dizia ela continuou cheia de raiva:
-Você idealiza demais todas as coisas, você sonha, você pira, você envolve as pessoas na sua loucura, na sua doce ilusão romântica. Você se viu nos meus olhos, mas você não viu a minha alma, você não pode ver a alma de ninguém, alma não é coisa material que seus olhos doentes possam ver.
-Mas...
-Eu não te amo, você só é um reflexo nos meus olhos, eu vou me virar e o horizonte vai se refletir neles, mas nunca a minha alma.
Então ela deu as costas e saiu andando com aquele horizonte inteiro, colorido e quente refletindo em seus lindos olhos castanhos.
Thays Gomes

Você tem razão

Ela olhou bem no fundo dos olhos dele com um sorriso doce nos lábios e disse:
- Já acreditei no amor, em suas cores, seus cheiros, seus sabores...
- Mas e agora?
-Não sei.
Ele continuou olhando para ela como se esperasse a continuação.
-Sabe, quando você duvida de algo e depois, por algum motivo, passa a acreditar, então você vai acreditar naquilo para sempre, mas... quando você acredita em algo e passa a duvidar, não há o que fazer, ainda que a dúvida seja grande ou apenas um pequeno incomodo, você vai duvidar daquilo para sempre.
Ele abaixou a cabeça tentando entender, se perguntando se aquilo fazia sentido, se já havia acontecido com ele alguma vez, então voltou a olhar para ela, ainda com aquele sorriso doce e encontrou a resposta imediatamente.
-É, menina, você tem razão.
Thays Gomes