domingo, 3 de outubro de 2010

Ele

Tanto tempo se passou, tantos anos... no entanto ainda não me acostumei com a ideia de me sentir assim, tão... vazia.

Eu lembro bem do rosto dele, se eu fechar meus olhos agora consigo vê-lo aqui, sua boca, suas olheiras, sua bermuda sempre caindo, seu cabelo que algumas vezes ficava bagunçado e a sua toca quando estava frio. Confesso que lembro pouco da sua voz quando chamava meu nome, mas não me esqueço de como eu me sentia.
Me revirava o estômago, me enchia de ansiedade, sempre achei que não fosse aguentar, e então quando ele gritava meu nome, meu coração gritava junto no peito, batia tão forte, tão desesperado.
Confesso que sinto falta de tudo isso, de cada exagero meu, das tempestades em copo d'água que eu insistia em fazer por nada, enfim, de cada reação infantil, lá se foi os meus 12 anos...
Mas como pode?
 Hoje eu já sou uma mulher, já sei das coisas que gosto, das coisas que detesto, do que amo e repudio. Mudei tanto, é claro, se um ano faz diferença, quem dirá vários...
 Meu corpo mudou, meu cabelo, meu olhar, meu sorriso, minha maneira de pensar, de agir, cada parte de mim já não é a mesma de anos atrás, mas e ele? Por quê ele continua tão vivo em mim? Por quê ele revive essa garotinha de 12 anos perdida? O que eu sinto por ele? Se eu mudei, por quê ele ficou? Como ele ficou?
Eu venho me perguntando isso dia após dia, ano após ano, cada vez que eu converso com ele, cada momento em que penso nele, e nunca obtenho respostas.
Às vezes em alguma tarde vazia me pergunto sobre ele, sinto uma curiosidade imensa de saber sobre qualquer coisa ligada a ele, se ele está bem, se está apaixonado, qualquer coisa idiota.
Andando por aí ou simplesmente esperando o ônibus, vendo as pessoas indo e vindo, ele surge me sufocando, e quase sempre grito por dentro: Meu Deus! Meu Deus! Porque ele me invade assim? Sem mais nem menos? Por quê ele me dói tanto vezenquando?
Em cada rosto, em cada lugar que eu vá, é como se eu sempre estivesse esperando ele aparecer, mas nunca tenho essa sorte, ou esse azar...
Quando sinto minha visão embaçar apagando o pouco que guardo, ou quando percebo que o tempo insiste em queimar minha memória, tudo o que tenho pra me segurar são algumas fotos, algumas poucas conversas e poucas lembranças, velhas lembranças.
Tantas pessoas passaram por esses braços, por essa mente fria, suja e vazia, tantas pessoas se agarraram a mim e imploraram pra ficar, pra eu amar, e no entanto, ele não pediu por nada, nunca quis nada e teve tudo.
Tantas vezes eu olhei no fundo dos olhos de alguém, senti o coração bater, dormi no calor dos braços, quando tudo o que eu queria era o olhar dele, o coração dele, qualquer calor ou coisa que ele pudesse me dar, e eu nunca tive nada, nem uma chance...
Não é isso que machuca. O que machuca é a saudade do que não existiu. O vazio de algo que nunca foi bom ou ruim. A dúvida de não saber se é tarde ou cedo demais, se devo esquecer ou simplesmente deixar mais algum tempo passar... Então ele me diz que tem medo da única pessoa que gostou dele assim, deixar de gostar a partir do momento em que conhece-lo, e eu tenho vontade de segurar seu rosto e dizer que NÃO! Definitivamente isso nunca aconteceria! Que se eu pudesse deixar de gostar dele eu faria isso agora e não estando com ele. Por mais idiota que ele seja, por mais imbecil que ele pareça, isso nunca aconteceria e  idiotisse é tentar evitar isso, imbecilidade é pensar que isso pode acontecer e me "proteger" daquilo que eu mais quero, uma chance, ELE! Isso é ser idiota!
Mas eu sei que não é esse o problema pra não me querer... Simplesmente não me querer é a resposta!
Mas e se tudo isso tivesse acontecido em outro tempo? Outro lugar? E se não tivesse acontecido?
Eu gosto dele, gosto de ter ele tatuado em mim.
Às vezes fecho os meus olhos e sinto o vento de leve bagunçando meu cabelo, sinto o cheiro de doce do meu perfume se misturando com o da chuva, com o da terra fofinha e molhada e com o da grama, e ele me vem a cabeça, ao coração, me invade como uma melodia que só minha alma sabe tocar, uma melodia que só toca em mim quando penso nele, só nele e em mais ninguém. E eu não penso em mais nada. Não existe dor, tristeza, saudade ou vazio.
Eu me encho dele e com isso me encho de mim, me encontro, me encho de vida, de alma, de amor.
É... eu amo ele. EU AMO ELE!
Porque ele está aqui dentro de mim. Porque a doce lembrança do seu sorriso, da sua voz, do seu olhar me bagunça por dentro há anos. E quando eu me encho de Deus é quando estou pensando nele, e é isso que me traz vida... E quando eu me encho dele eu transbordo de paz, eu posso então ter um sonho, alguém pra desejar, pra imaginar, e imaginar o toque dele, a textura da sua pele, tirar sua voz do meu pensamento e a tornar real, viajar em milhares e milhares de sonhos onde tudo, tudo sempre é ele...
 Thays Gomes

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